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BORÉPETEI.UNO

BORÉPETEĩ

O PROJETO

Borépeteĩ circula pelas escolas indígenas do povo Tupinambá, com a proposta de evidenciar o papel deste povo, que segue lutando pela demarcação de seu território, no processo de independência do Brasil na Bahia e seus desdobramentos após a gran- de vitória. 

SINOPSE

A Organização das Nações e o Teatro Popular de 
Ilhéus põem em prática um experimento.

Cinco seres do futuro, que habitam outros planetas, 
distantes da Terra, vêm até nós para explicar como 
devemos fazer para salvar nossas nações. Eles dizem: Estão perdidos? Voltem às origens! 

Diante da distopia que o país viveu nos últimos 
anos, quando pensamentos reacionários, exercícios 
de autoritarismo e cultos à desinteligência dominaram o cotidiano, o Teatro Popular de Ilhéus apresenta a potência dos povos originários, para daí propor uma revisão de pensamentos e atitudes. 

O espetáculo Borépeteĩ, que na língua tupinambá 
significa Uno, o que tudo contém e está contido em 
tudo, quer nos devolver a condição de seres humanos com capacidade de ver para além do que a vista alcança e nos ensinar a re/conectar nossos corpos dentro do Universo e suas complexidades como parte dele. 

Somos todos Uno. 

Borépeteĩ

Este projeto foi contemplado pelo edital Diálogos Artísticos – Bicentenário da Independência na Bahia e tem apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia, unidade vinculada à Secretaria de Cultura (Funceb/SecultBa).

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Romualdo Lisboa

UM ABRAÇO NO TEMPO

Quando iniciamos a montagem de Borépeteĩ. Uno, 
estávamos envolvidos numa questão que já havíamos levantado durante a criação de Sonhos – o que restou de nós depois da tempestade (2022): Como dialogar com essa horda cruel e desumana que brotou dos esgotos, pedindo ditadura militar, o fim do estado democrático de direito e ovacionando um inepto perverso como líder?

Sim. Esta é uma questão para nós que construímos, desde 1995, um exercício diário de diálogo com o público. Eles já estavam aqui e vão continuar. Certamente, estarão em nossas plateias, já que muitos estavam em nossas casas, nas repartições públicas, ambientes escolares. Como lidar com essa gente que contribuiu para o genocídio de mais de 700 mil brasileiras e brasileiros? Como lidar com essa gente que invadiu hospitais, colocando em xeque a pandemia e suas vítimas? Como fazer teatro para as pessoas que festejaram a morte de Marielle Franco, que invadiram o STF, que ameaçaram e ameaçam, agrediram e agridem quem pensa diferente delas?

Para aprofundar mais nestas e outras questões, debruçamo-nos sobre a análise apresentada pelo professor e historiador Castro Rocha que, em entrevista ao Jornal Estado de Minas, disse: “o Brasil assiste à consolidação das condições para a instauração de um estado totalitário fundamentalista religioso. Este é o propósito da extrema-direita brasileira, que compartilha as mesmas estratégias de seus aliados 

Transnacionais: o uso das plataformas de mídias digitais para a produção da dissonância cognitiva coletiva, um Brasil paralelo, que fratura a espinha dorsal dos valores verdadeiramente cristãos e democráticos.” É, de fato, o momento mais preocupante da história da República. Os impactos da tentativa de implantação de um regime totalitário, que controla desejos via redes sociais e impõe posturas antidemocráticas ainda serão sentidos por décadas. Voltamos centenas de casas no jogo que constrói a sociedade brasileira, tão injusta e ainda em busca de identidade.

Decidimos abraçar o tempo e refundar o Brasil (se é que algum dia ele foi fundado, diria o pesquisador Glauco Ribeiro Tostes, numa conversa pelos corredores da UESC). Para isso, criamos um espetáculo, um experimento, que busca nos reconectar aos povos originários e seus ancestrais que aqui estavam quando os europeus invadiram e tomaram de assalto o território sagrado de humanos e não humanos, de encantados, suas formas e sons. Borépeteĩ é a nossa cosmopercepção1 do momento singular de nossa história. Ciência, tecnologias, futuro, passado e presente, o tempo-espaço e nossas descobertas sobre como nos mantermos vivos, como manter vivas as próximas gerações, estão no som das maracas, no movimento dos corpos que falam para o mundo em Borépeteĩ. Temos uma tarefa complexa, e assumimos a responsabilidade de substituir a violência pelo afeto e promover um abraço no tempo.

1. Termo que ouvimos da pesquisadora e astrofísica Natália Amarinho, e amplia a ideia de cosmovisão, já que a visão é tão limitada

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A PULSÃO DAS ORIGENS

Luis Alonso-Aude

O teatro, sendo um espaço de representação 
do real, representa assim os traumas dessa realidade. Sendo socius por excelência, mostra as feridas do social. Em suma, o teatro é a própria sociedade dilatada em um espaço convencional ou alternativo chamado de cena. Não é diferente com nosso novo espetáculo, que na sua 
produção, Borépeteĩ. Uno, traz inquietações relacionadas com a ausência de compreensão da vida, quando excluímos o diferente e, sobretudo, quando esse diferente é mais do que uma parte fundacional do país chamado Brasil. É curioso ver como um povo originário é tratado como estranho naquela terra que lhe pertence. Esses ‘estranhos’ conformam também um território de cosmologias, pensamentos e relações com a natureza, distinções às quais precisamos prestar muita atenção. A cultura Tupinambá, assim como todas as culturas dos povos originários, 
tem sido sempre negada neste país. Em troca, tem se imposto um pensamento eurocentrista e consumista na vida e nas pessoas. Erguer um totem, cantar em tupi, falar a língua dos afastados, dos invisibilizados, tocar nos seus instrumentos, representar em círculo, são alguns dos tantos achados deste processo artístico, que dança, em um devir performático, a pulsão das origens e a força do reclamo libertário de uma cultura que tem de se integrar, com extrema urgência, ao pensamento totalizante do povo brasileiro.

Elenco
Tânia Barbosa
Márcia Mascarenhas
Aldenor Garcia
Pablo Lisboa
Antônio Vicente

técnico atuador Ely Izidro
participação em vídeo Katu Tupinambá, Cacique Ramon, Nádia 
Akauã e Pytuna 
vozes Îagwara, ancião da Aldeia Tupã, Katu Tupinambá e Casé 
Angatu
preparação corporal e direção de movimento Luís Alonso-Aude

Dramaturgia
texto Romualdo Lisboa
tradução para a língua Tupinambá Consuelo Costa e Katu Tupinambá consultoria dramatúrgica Casé Angatu estudo da língua 
Tupinambá Katu Tupinambá

Direção
Romualdo Lisboa
Luís Alonso-Aude

Música
direção musical Pablo Lisboa
letras Romualdo Lisboa
composições Pablo Lisboa
participação vocal na música “Na linha do horizonte” Pytuna
mixagem e masterização Pablo Lisboa
preparação vocal Antônio Melo
gravação Mailton Figueiredo e Eli Arruda
operação de som e efeitos sonoros Pablo Lisboa e Ely Izidro
produção musical Pablo Lisboa
trilha sonora gravada no estúdio do curso de Comunicação Social da UESC, gerência Emiron Gouveia

Figurinos e adereços
criação e execução Shicó do Mamulengo
assistente de adereços Aldenor Garcia e Romualdo Lisboa
costura Deko Mutalambô, Isa Lima e Tânia Barbosa

Cenografia e dispositivos cênicos
concepção e criação Shicó do Mamulengo
dispositivo de projeção audiovisual Shicó do Mamulengo
assistentes Marcos Henrique, Romualdo Lisboa e Aldenor Garcia
pintura faixas Rildo Foge

Iluminação
concepção, montagem e operação Ely Izidro

Projeção audiovisual
produção Praça Produções Culturais
captação de imagens Carlos Ortlad
som direto Pablo Lisboa
edição, montagem e finalização Carlos Ortlad
operação de projeção Ely Izidro e Pablo Lisboa

Comunicação
assessoria de comunicação Antônio Vicente
fotografias Rosival Aquino
designer Yunan Lobo

Produção
produção executiva Romualdo Lisboa
produtores associados Elson Rosário e Carlos Ortlad
produtoras Celeiro Cultural, Praça Produções Culturais, 
Teatro Popular de Ilhéus

FICHA TÉCNICA

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O Teatro Popularde Ilhéus (TPI) surge em 1995 fundado pelo ator e diretor Équio Reis (in memorian). Em todos esses anos de trajetória, foram dezenas de montagens, intervenções artísticas nas comunidades, apresentações em cidades e capitais, além de participações em festivais de teatro.

Desde o início, as manifestações da cultura popular sempre estiveram inseridas na tentativa de retomar a própria identidade cultural e o teatro popular como mecanismo de transformação social, além da pesquisa sobre o Teatro Épico de Bertolt Brecht.
O Teatro Popularde Ilhéus é Ponto de Cultura da Bahia, parcialmente mantido com apoio do Programa de Ações Continuadas de Instituições Culturais, uma iniciativa da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia através do Fundo de Cultura da Bahia. Seus projetos artísticos e culturais incluem espetáculos, exibição de filmes, cursos e oficinas, debates, encontros e intercâmbios com outros grupos e artistas.

O Teatro Popular de Ilhéus também é editora, e desde 2011 já publicou mais de 50 livros de novos autores e de alguns de grande notoriedade nacional, a exemplo de Sosígenes Costa e Jorge de Souza Araújo. O projeto visa assessorar autores na publicação de suas obras, fornecendo equipe para edição, diagramação e impressão.
Para além das atividades de pesquisa, criação e difusão desenvolvidas permanentemente, o TPI tem se dedicado à construção de sua sede própria. Um projeto do arquiteto e urbanista Carl von Hauenschild está em andamento. A obra será realizada em terreno doado pelos sócios remidos do Clube Social do Pontal. Enquanto o sonho da sede própria não se realiza, o grupo está abrigado na UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz, através de acordo de cooperação que permite ao coletivo criar seus espetáculos e realizar apresentações no Campus e fora dele, em parceria com o Observatório Astronômico e o Núcleo de Artes da UESC.

Com ações direcionadas para adultos e crianças, o Teatro Popular de Ilhéus tem se configurado um exemplo de espaço criativo, e segue em novos projetos, novas pesquisas, dialogando com a sociedade, entendendo-a e propondo novas formas de ver 
o mundo e sua história.

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